Para ajudar você a se situar entre os cerca de 500 convidados e quase 200 atividades em mais de 15 espaços do Centro Histórico, o Roda Cultural listou alguns rolês literários imperdíveis
Começa nesta quarta-feira (6), em Salvador, este que já se consolidou como um dos maiores eventos literários do Brasil. É a Flipelô, Festa Literária Internacional do Pelourinho, que em sua nona edição faz uma justa homenagem ao escritor e dramaturgo baiano Dias Gomes (1922-1999).
O dramaturgo Dias Gomes é o homenageado desta edição
Muuuuito antes do streaming, havia uma TV aberta que prezava por entregar aos telespectadores obras de qualidade. Dias Gomes é um dos responsáveis por isso. Se você não o conhece, pergunte aos seus pais ou avós e eles saberão dar a dimensão exata do que Gomes representou para a televisão brasileira entre as décadas de 1970 e 1980. E, como se seu talento sozinho não bastasse, ainda se casou com a novelista Janete Clair (1925-1983), outra gênia da teledramaturgia.
Com textos carregados de crítica social e política, Dias Gomes escreveu contos, romances, peças de teatro, novelas e séries. Bastante modernas, muitas de suas obras foram censuradas pela ditadura militar, porque confrontavam e ridicularizavam o autoritarismo da época. A peça ‘O Pagador de Promessas’ (1959) lhe conferiu projeção internacional, sendo traduzida para mais de uma dúzia de idiomas e encenada em diversos países. O texto virou filme, dirigido por Anselmo Duarte (1920-2009), e em 1962 recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes, única produção brasileira já agraciada com a premiação nesta categoria. Depois, ganhou adaptação para a TV, numa série de muito sucesso.
Outro trabalho de destaque foi a novela ‘O Bem Amado’ (1973), adaptada da peça ‘Odorico’, cuja figura de Odorico Paraguaçu representava o populismo e o coronelismo políticos da época – não muito diferente do que ainda vemos hoje. Vieram, ainda, outros sucessos televisivos, como ‘O Espigão’ (1974), com uma trama que antecipava a pauta do meio ambiente e a ocupação irregular das cidades; e ‘Saramandaia’ (1976) e sua narrativa que utilizava recursos do realismo fantástico, popularizado por escritores como Gabriel García Márquez e Jorge Luis Borges. ‘Roque Santeiro’ deveria ter ido ao ar em 1975, mas foi proibida, sendo exibida pela Globo 10 anos depois.
Programação ampla, gratuita e diversificada
Em um momento como este, no qual a cadela do fascismo continua à espreita, conhecer mais sobre o autor que desafiou a ditadura e produziu verdadeiras obras-primas populares é motivo suficiente para ir à Flipelô.
Mas, vamos te dar mais alguns: a programação é cem por cento gratuita, com atividades em mais de 15 espaços espalhados pelo Centro Histórico; são aproximadamente 500 convidados, entre escritores, músicos e atores, circulando pertinho de você; acontecem palestras, debates, bate-papos, oficinas literárias, shows, exposições, em uma programação intensa que se estende até domingo, dia 10.
Criação e realização da Fundação Casa de Jorge Amado, a festa une o livro a diversos outros gêneros como a música, o teatro, as artes visuais e a gastronomia.
“A Flipelô se consolidou no calendário nacional das festas literárias. Talvez sejamos a maior entre todas com uma programação que é toda gratuita. Fomos abraçados pela comunidade do Pelourinho, que soma na construção da festa. A cada ano aumenta o público baiano e de outros estados. Ano passado, mais de 250 mil pessoas vieram ao Centro Histórico nos cinco dias do evento”, ressalta Angela Fraga, diretora-executiva da Fundação Casa de Jorge Amado.
Confira os eventos imperdíveis!
Para facilitar – um pouco! – a sua vida, listamos alguns dos eventos que consideramos imperdíveis na Flipelô 2025. Vamos nos ater às atividades literárias (e olha que ainda assim é difícil não precisar se dividir em três!), mas não podemos deixar de citar a abertura oficial, nesta quarta-feira, às 19h, no Palco Flipelô, com o espetáculo teatral ‘Os Dias Bem-Amados: Vida e obra de um autor baiano’, dirigido por Gil Vicente Tavares.
Entre as iniciativas literárias, vale ressaltar o lançamento de ‘Cartas: Dias Gomes – Jorge Amado’, na quinta-feira, às 17h30, na biblioteca do Palacete Tira-Chapéu. O livro inaugura a Coleção Um Gesto de Amizade, da Editora Casa de Palavras, braço editorial da Fundação Casa de Jorge Amado. O lançamento vai reunir, em um bate-papo aberto ao público, Paloma Jorge Amado, filha de Zélia Gattai e Jorge Amado, e Tatiana Dias Gomes, neta de Janete Clair e Dias Gomes, que vão falar sobre a relação fraterna entre os dois autores baianos.
A programação completa está em flipelo.com.br.
Confira nossa seleção:
QUINTA-FEIRA (7)
14h – Bate-papo ‘O que há por trás das telas’
Rosane Svartman (RJ)
Elísio Lopes Jr. (BA)
Mediação: Dimas Novais (BA)
Local: Vila Literária – Largo Tereza Batista
16h – Roda de conversa ‘O Afrofuturismo e as narrativas de resistência’
Anderson Shon (BA)
Ale Santos (PA)
Mediação: Paulo Rogério Nunes (BA)
Local: Casa Motiva – Vale do Dendê
18h – Com a palavra o escritor – ‘Duas poetas – dois continentes’
Tracy K. Smith (Estados Unidos)
Shelly Bhoil (Índia)
Mediação/Tradução: Stephanie Borges (RJ)
Local: Museu Eugênio Teixeira Leal
19h – Mesa ‘Vozes que emergem: os novos poetas do Prêmio Myriam Fraga’
Micheliny Verunschk (PE)
Rodrigo Casarin (SP)
Alan Rezende (RJ)
Mariana Lima (BA)
Francisco Pedrosa (PE)
Mediação: Marcus Vinícius Rodrigues (BA)
Local: Teatro Sesc-Senac Pelourinho
19h – Lançamento do livro ‘Parapeito’
Rita de Podestá (SP)
Mediação: Paulo Zan
Local: Espaço da Revista O Odisseu – Ateliê M.E
SEXTA-FEIRA, 8
9h30 – Lançamento do livro ‘O dia em que as mães entraram em greve’
Carla Bittencourt (BA)
Local: Espaço Infantil Mabel Velloso – Praça das Artes
11h – Bate–papo ‘Escrever é herdar: memória, literatura e vozes de mulheres’
Luciana Targino (CE)
Paloma Jorge Amado (BA)
Local: Café Teatro Zélia Gattai
14h – Bate–papo ‘Calasans e Conselheiro: história, política e religiosidade no sertão brasileiro‘
Marcelo da Silva Ribeiro (SE)
Mediação: Evandro Neto (BA/SP)
Local: Café Teatro Zélia Gattai
15h – Mesa Solisluna Editora – ‘Roda, memória, ritmo e tradição’ – Lançamento do livro ‘Pastinha, o menino que virou mestre de capoeira’
José de Jesus Barreto
Cau Gomez
Mediação: Valéria Pergentino
Local: Casa das Editoras Baianas – Igreja São Pedro dos Clérigos
16h – Bate-papo ‘Literatura, séries e filmes’
Thalita Rebouças (RJ)
Mediação: Val Benvindo (BA)
Local: Vila Literária – Largo Tereza Batista
16h – Bate-papo ‘Era uma vez… infância e natureza, as conexões que transformam’
Paula Mendonça (SP)
Alexandre Coimbra do Amaral (SP)
Milly Lacombe (SP)
Local: Casa Motiva – Vale do Dendê
16h – Bate-papo com a autora Elisama Santos (SP)
Mediação: Emília Nuñez (BA)
Espaço infantil Mabel Velloso – Praça das Artes
17h – Mesa: Editora Vila Olívia – ‘Poesia como estratégia de resistência’
Ordep Serra
Sandro Ornellas
Mediação: Mônica Menezes
Local: Casa das Editoras Baianas – Igreja São Pedro dos Clérigos
18h – Bate-papo – ‘Literatura que dá samba’
Luiz Antônio Simas (RJ)
Henrique Rodrigues (RJ)
Local: Palco Flipelô
18h – Roda de conversa – ‘Para ouvir quem faz: ensaio, teatro, literatura’
Edilene Matos (BA)
Cleise Mendes (BA)
Décio Torres Cruz (RJ/BA)
Coordenação: Aleilton Fonseca (BA)
Local: Museu Eugênio Teixeira Leal
SÁBADO, 9
9h – Mesa ‘Angu de grilo convida: Lázaro Ramos’
Flávia Oliveira (RJ)
Isabela Reis (RJ)
Lázaro Ramos (BA)
Local: Teatro Sesc-Senac Pelourinho
10h – Bate-papo – ‘A poesia falada, escrita, escutada e assistida’
Ryane Leão (MT)
Kaio Phelipe (RJ)
Breno Silva (BA)
Mediação: Renata Ettinger (BA)
Local: Vila Literária – Largo Tereza Batista
11h – Com a palavra o escritor – ‘Fotobiografia: Naná Vasconcelos e Sonia Braga em fatos e fotos’
Augusto Lins Soares (PE)
Arlete Soares (BA)
Mediação: Rodrigo Casarin (SP)
Local: Museu Eugênio Teixeira Leal
17h – Mesa: Editora Caramurê – ‘Luz do Querer: Releituras e narrativas inspiradas nas canções de José Carlos Capinan’, com acompanhamento musical de Rita Tavarez
Cleise Mendes
Anderson Shon
Mediação: Fernando Oberlaender
Local: Casa das Editoras Baianas – Igreja São Pedro dos Clérigos
DOMINGO, 10
15h – Bate-papo com o autor Alexandre Coimbra Amaral (RJ)
Mediação: Margareth Maldonado (BA)
Local: Espaço Infantil Mabel Velloso – Praça das Artes
16h – Aula ‘Imagens da branquitude: a presença da ausência’
Lilia Schwarcz (SP)
Local: Teatro Sesc-Senac Pelourinho
16h – Bate-papo ‘Essa novela é trend’
Raphael Montes (RJ)
Mediação: Felipe Brito (BA)
Local: Vila Literária – Largo Tereza Batista
16h – Mesa coletiva – ‘Bahia Fantástica: mitos, magia e literatura’
Franklin Carvalho (Villa Olívia)
Vera Spínola (Caramurê)
Edsoleda Santos (Solisluna)
Mediação: Décio Torres
Local: Casa das Editoras Baianas – Igreja São Pedro dos Clérigos
